Isac Costa Soares é um exemplo do papel transformador do Ouviravida. Ele foi aluno, seguiu carreira e hoje é um dos professores do projeto
Isac Costa Soares começou no Ouviravida em 2003, com 14 anos, com aulas no bairro Umbu – na época um dos mais violentos de Alvorada. “No primeiro dia que eu fiz aula de flauta eu já sabia que queria aquilo pra minha vida”, recorda.
Por conta disso, Isac estudava bastante. Tanto que, logo no primeiro frequentando o projeto, ele passou do grupo de iniciantes para o avançado e ainda foi aprovado na seleção para a Escola de Música da Ospa.
Depois, seguiu os estudos e concluiu o curso de licenciatura em Música no Ipa. E agora, em 2017, foi convidado para integrar o grupo de professores, nesta nova fase do Oviravida.
“Poder voltar e ser professor do projeto é muito gratificante e realizador. Eu estou muito feliz e muito animado. Porque eu sei que esse tipo de ação dá resultado. Eu tenho colegas meus do Ouviravida que seguiram. Um deles está fazendo flauta doce na UFRGS; tem um que está na França e tem envolvimento com várias artes; e outro que trabalha com educação musical. E dessa leva, eu fui o primeiro a me formar em música. Inclusive, eu sou o primeiro da minha família a conseguir fazer uma faculdade”, conta.
Para além do ensino de música, Isac reforça o papel social do Ouviravida.
“Naquela época eu achava que a única realidade que existia era morar no bairro onde eu morava. O Ouviravida me deu a oportunidade de ver que existia um mundo mais amplo. E hoje, quando estou dando aula, eu fico me colocando no lugar deles. A realidade que os alunos vivem é o que é posto pra eles. E é difícil de eles imaginarem que há uma possibilidade de mudança. ”
Hoje, Isac estuda trompete no Conservatório Pablo Komlós (Escola de música da OSPA) e integra o Grupo de pesquisa Educação Musical e Cotidiano (Ufrgs). Apresenta-se em eventos, participa da Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo e já tocou com orquestras como a Ospa, a Sinfônica de Gramado, Orquestra da PUCRS e Banda Municipal de Porto Alegre. Também atua como professor particular de música.
Em agosto de 2017, o Projeto Ouviravida – Educação Musical Popular retomou as atividades após dez anos. Atualmente, 180 crianças da Vila Pinto, no Bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, estão frequentando aulas de gratuitas de percussão, canto, flauta doce e prática de conjunto. As aulas ocorrem na própria comunidade, no Centro São José– entidade beneficente que atende crianças e jovens no turno inverso ao da escola.
Idealizado pelo maestro Tiago Flores, que na época era maestro da Ospa, o Ouviravida esteve ativo entre 1999 e 2007, tendo oportunizado o ensino de música para mais de 600 crianças de comunidades em situação de vulnerabilidade social e econômica. Atuava nas cidades de Porto Alegre (Vila Pinto – Bom Jesus), Alvorada (Umbu) e Gravataí (Morada do Vale -Fase III). Depois, por falta de apoio, o projeto teve de encerrar suas atividades.
A retomada do Ouviravida foi possível graças ao patrocínio da Dufrio, por meio de financiamento do Pró-Cultura RS, da Secretaria de Estado da Cultura.