Padaria paralisou a entrega de pães por assinatura momentaneamente e está produzindo pães para o Café da Manhã da Cozinha Solidária Azenha
Em função da catástrofe climática enfrentada pelo Rio Grande do Sul, a Amada Massa modificou a sua atuação durante o período de crise. A padaria, localizada na Rua Sebastião Leão, 90, bairro Azenha, está sem funcionamento desde o dia 5 de maio. Com a possibilidade de alagamentos na região, a equipe optou por isolar o local, e o mobiliário interno foi equilibrado em cima de pallets, visando a sua preservação. Até o momento, não entrou água na sede da Amada Massa, mas a padaria ficou sem luz por dez dias.
Além da impossibilidade de produção no local, a entrega dos pães também esteve comprometida para os assinantes, que residem, em sua maioria, nos bairros Azenha, Menino Deus, Cidade Baixa, Praia de Belas e Centro Histórico – ainda alagados.
Nesse período, no entanto, a Amada Massa não ficou parada. A equipe se uniu à Cozinha Solidária da Azenha (Av. Azenha, 608) e está produzindo e entregando café da manhã para a população de rua e para pessoas assoladas pelas enchentes. Além disso, com a ajuda de doações, voluntários e apoiadores, foi possível ampliar a produção.
A Amada Massa está produzindo cerca de 300 pães por dia para distribuição gratuita diária, das 8h às 10h. Além dos pães, o café da manhã é composto por café preto, leite, achocolatado, sanduíche, pão com geleia e salada de frutas.
Vale destacar também que grande parte dos assinantes do clube de pães optou por continuar pagando pelo serviço, mesmo sem receber as entregas, como forma de apoiar a produção para quem mais precisa.
A Amada Massa é uma iniciativa de reparação social que tem como intenção colaborar com a construção de autonomia através de um sistema de apoio e de geração de renda para pessoas em vulnerabilidade social ou com trajetória de rua. Sua base financeira e de trabalho é um Clube de Pães no bairro Azenha em Porto Alegre/RS. Seu foco é a luta pela garantia de direitos de pessoas em situação ou com trajetória de rua e vulnerabilidade social, somada à experimentação em processos de Redução de Danos, de Comunicação Não-Violenta e de Princípios de Justiça Restaurativa.
Hoje o Coletivo conta com quatro sócios, pessoas com histórico de rua e/ou em situação de vulnerabilidade social, eles que participam de todo o processo da padaria: compra de insumos, produção dos pães, entregas, entre outras funções, além dos sócios contamos com a ajuda de aproximadamente 15 Apoiadores, pessoas que estão envolvidas em outras frentes, como: comunicação nas redes sociais, relacionamento com assinantes e parceiros, setor administrativo-financeiro, etc.
Através da assinatura mensal, a pessoa fermentadora assina 01 pão por semana e escolhe se quer coletá-lo no espaço (padaria ou ponto de coleta) ou receber diretamente em seu endereço.
Seus pães têm 500 gramas, são confeccionados de forma artesanal e através do método da fermentação natural, além de serem veganos e orgânicos.
O pão da semana é sempre uma experimentação de um novo sabor, já foram produzidos pães de batata doce, de aipim, de milho, de beterraba, de couve, de abóbora, banana com canela, de chocolate vegano e mais recentemente com algumas PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), como o Ora Pro Nobis, fruto da sua horta, entre tanto outros sabores.
Na segunda fase, foi alugado um local de aproximadamente 15 metros quadrados e, após uma capacitação, essas pessoas passaram a fazer parte da produção dos pães, das entregas e de muitas outras práticas, permanecendo com a atividade de venda direta, mantendo e potencializando o espaço de acolhimento.
No momento, a padaria está numa terceira fase, num espaço muito maior, com aproximadamente 80 metros quadrados, uma casa grande com pátio onde também há uma horta, de onde saem alguns insumos como temperos, frutas e PANCS. Nessa terceira fase foi possível um incremento na sua produção, com fornadas de segundas às quartas, proporcionando mais aprendizado, espaços de acolhimento, trabalho e renda, além de aumentar o acesso para mais pessoas pelas mãos e mentes de quem fez e faz a iniciativa acontecer até aqui.
Um dos princípios da iniciativa é a formação de redes locais autônomas e independentes. Além das pessoas fermentadoras (assinantes do clube), o Coletivo Amada Massa conta com uma rede de pessoas e iniciativas ao seu entorno, são as pessoas apoiadoras que auxiliam em tarefas que hoje, os sócios, ou como são chamados a “galera” (pessoas vulneráveis ou com trajetória de rua) ainda não dominam.
Fazem parte dessa rede indivíduos e iniciativas que ajudam direta ou indiretamente em atividades como: facilitação da produção, logística, financeiro, administração e comunicação. Além de profissionais de audiovisual, que se disponibilizam para realizar os registros e produzir material gráfico.
Assim como em todas as pessoas, existe uma complexidade na vida de quem tem trajetória ou está em situação de rua. Gerar renda é apenas uma parte do processo de fortalecimento dos indivíduos.
As pessoas em vulnerabilidade social, a “galera”, recebem acolhimento pelas pessoas que compõem a rede de apoio da Amada Massa. Com base nas práticas de Comunicação Não-Violenta, pretende-se investigar as possibilidades de fortalecimento das pessoas a partir de momentos de escutas semanais e introdução e aplicação de princípios de Justiça Restaurativa.